segunda-feira, 20 de abril de 2009

Tentou durante tantos anos ser arrebatada. Acreditou até ter sido algumas vezes, mas não. Não tinha sido. Acordara agora de um congelamento que parecia ser infinito. Gostava de achar saber lidar com as situações. Coitada, mal sabia que algumas situações não são controláveis. Que graça teria? Perdida estava agora sentindo o inopinado acontecer. Sentia os pelos eriçar e não entendia nada. Era somente a vontade de encontrar. De possuir e ir embora. Poder dormir com outros ou envolver se pela metade o que repetidas vezes acontecia. Dessa vez não. Melhor era correr, mas de que? Continuava sozinha. O que sentia , sentia sozinha. Não havia ninguém ao seu redor e muito menos alguém que quisesse compartilhar qualquer coisa mais profunda. Mas ela também não queria. Na verdade o coração queria, o estômago queria, suas vísceras e sangue pediam insistentemente que fosse castigada. Que ao menos uma vez se deixasse levar de verdade por algo que sentisse também de verdade. Sem invenções ou gestos feitos e ensaiados. Ela sabia que precisava, mas também sabia que isso a tiraria dela. Não podia nunca imaginar-se sendo de alguém. Não, isso nunca. Quem poderia ama-la e não fazer o vazio desaparecer? Não saberia viver sem essa dor constante, aquela que se acostuma. Que nem se sente mais, mas que é como perder uma parte de si. Isso a fazia diferente dos outros. E isso talvez fosse mais importante que amar. Sentir uma dorzinha sem vergonha, uma dor instigante, uma dor revoltante, uma dor pulsante, pungente. Não existia para ela esse modo simples de vida em que todos são felizes. Isso era sem graça demais. Gostava era dos tons pastéis, dos cortes, do orgulho e principalmente de sofrer calada e pintar tudo de cinza. Tinha aprendido muita coisa e uma das mais essenciais era saber que parecer forte era muito mais importante do que ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário